Carta aberta de um bombeiro militar

Para aqueles que dizem: “Mas por que eles se aposentam novos demais? Só trabalham 30 anos? Isto tem que mudar, no mínimo para 35 anos…”, “Só trabalham de dois a três dias por semana… Tem um bom salário e ainda dormem no quartel…”. Você que diz isso, ou que pensa assim, não tem ideia das dores que carregamos ou das memórias que nos assombram.

Dormir no quartel? Talvez! Mas você já se deitou, momentos depois de dizer a uma mãe que o filho dela que está deitado no chão do quarto, teve uma overdose e está morto? E que não tem mais nada a fazer, querendo que ela soubesse que você fez tudo que era possível? Você já se sentou para uma refeição após ter retirado um corpo em decomposição de dentro de uma lagoa, rio ou local de difícil acesso? Quantas vítimas em acidente de trânsito você já recolheu pedaços pelo chão? Alguém já segurou sua mão com lágrimas nos olhos te pedindo para ajudar e você fez tudo o que podia, enfrentando o trânsito caótico da cidade até o Pronto Socorro sem ter o sucesso desejado?

Quantas vítimas de arma branca ou de fogo você subiu o morro para socorrer? Até mesmo sob a ameaça dos seus algozes? Você já parou de jantar ao ouvir o toque do alarme da sua viatura, e sair em 30 segundos? Já saiu debaixo de fortes chuvas para resgatar um cachorro dentro de um ribeirão ou em uma madrugada fria para socorrer uma parturiente?Quantas vezes você ouviu uma vítima lhe perguntar: ‘cadê meu filho?’ E você responder ele está bem, mas na verdade ele está morto entre as ferragens do veículo que ocupava. Quantas vezes já segurou em teus braços um bebê com parada cardíaca, e seus pais chorando a clamar pela vida, e você o devolver respirando? Quantas vítimas de suicídio com pais, mães e filhos desesperados esperando você socorreu?

Em quantas tragédias você já esteve para resgatar vidas, combater incêndios, ou procurar alguém em desabamentos, soterramento ou retirar famílias ilhadas, motoristas e passageiros de dentro dos seus veículos em uma inundação, etc? Sem contar os riscos; se for relatar todas situações possíveis no teatro de operações não acabariam. Mas e aí, quanto de tudo isso você fez? Quase nada né? Então, da próxima vez que você olhar para um BOMBEIRO ou POLICIAL MILITAR, não nos julgue pela nossa idade de aposentadoria, e sim nos respeite pela nossa história.

“Se o meu sorriso fosse capaz de mostrar o fundo da minha alma, muitas pessoas ao me verem sorrir, chorariam comigo”.

Texto de Nilson Junior

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